segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Rant!



Exaspera-me as cabeças pequenas e de compreensão estreita, que não compreendem que eu trabalho. Não é o trabalho de repartição nem o trabalho numa empresa. Também não é uma fábrica ou uma loja. Mas eu trabalho. Acordo cedo, faço hora de almoço, organizo a casa num instante se for preciso, até vou às compras às horas catitas, quando não está ninguém no supermercado, mas fora isso estou sentada em frente ao PC ou em frente a um livro ou rodeada de artigos e canetas e garrafas de água e chávenas de café. E se necessário for, continuo a trabalhar depois de jantar porque os prazos não se compadecem com tarefas domésticas. E se necessário for, o trabalho prolonga-se pelas horas silenciosas do prédio, quando todos dormem e uma totó tecla incessantemente. Também tenho o péssimo hábito de trabalhar ao fim-de-semana, mas esses eu lá vou conseguindo manter para mim. 

Adoro ser bolseira a tempo inteiro, ter mais tempo para fazer almoçaradas, adorei ter ido beber um café a casa de uma amiga que tirou o dia e me convidou para lá aparecer (e que, aliás, é das poucas que compreende perfeitamente o que faço na vida), mas sabem o que faço depois do intervalo? O mesmo que vocês, regresso ao trabalho. Começo a sentir-me refém dos sentimentos feridos dos outros, mas não posso saltar perante a voz de comando de quem me atira "Mas tu até estás em casa...". E sei que as pessoas ficam chateadas quando eu não apareço porque até estou em casa, que razão terei eu para não aparecer? Não sei, se calhar não ter que devolver a bolsa por inteiro no fim do meu contrato porque andei a beber cafés em vez de redigir uma tese. 

Agora se o vosso problema é a forma e não o conteúdo, aí já não posso ajudar. Porque de facto eu escrevo na mesa de jantar ou na cozinha e leio no sofá. E às vezes até escrevo na varanda a apanhar sol. Se vos tranquiliza as emoções eu vou para um open space qualquer, eu mudo-me para a Universidade a tempo inteiro só para não perturbar o vosso frágil ecossistema. 

E isto vem num dia em que ainda não parei senão para comer. Deve ser da boa vida que levo. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Back to basics: fichas de leitura


Quando se tem que ler (e reler, que ainda é mais doloroso) o volume de artigos, capítulos e livros que um doutoramento exige, só a leitura é sempre insuficiente. Por muito que se tomem notas o mais certo é o conteúdo cair no esquecimento e exigir ainda outra leitura, o que é coisa para enlouquecer qualquer pobre candidato a sotor. E daí a importância das fichas de leitura.

A bem da verdade nunca me ensinaram um método catita de fazer fichas de leitura. Por isso inventei o meu que, suponho, deve ser muito parecido com o da maioria das pessoas. 

1. Ler o artigo/ livro/ capítulo sublinhando os trechos importantes e fazendo notas nas margens o mais completas possível, para depois se tornar mais fácil (em estando na biblioteca o rabiscanço já não é possível e, por isso, é com ligação directa ao papel ou ao PC. Crianças! Não riscai os livros!). Resultado: tenho uma biblioteca de livros riscados, sublinhados, fluorescentes e afins. 
2. Normalmente depois faço a ficha à mão primeiro. Tenho um caderninho onde vou acumulando fichas de leitura e quando me dá a vontade passo para o PC.
3. Na ficha utilizo o método:
- Página
- Resumo do que sublinhei ou nota de margem
- Se necessário, citação.
4. No PC utilizo o sempre maravilhoso EndNote, que não só faz umas bibliografias e citações lindas como tem espaço para notas e é nesse campo que introduzo as minhas fichas.

Em média demoro um tempo imenso nisto tudo. Pelo menos duas horas por capítulo (dois dias e meio para o The Sociology of Childhood na semana passada), e depois mais uma hora entre ficha de leitura e passagem para EndNote. Bem sei que o passo manual parece perda de tempo, mas a vantagem é poder levar o caderno das fichas para qualquer lado, ao contrário do portátil, que é sempre uma chatice de alancar. 

Pelamordasanta, vocês partilhem comigo as vossas experiências ficheiras...!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ler para escrever


Passei boa parte desta semana a ler. O The sociology of childhood já está a dois terços e o Handbook of childhood studies levou um belo rombo também, com cinco capítulos prontos para ficha de leitura (isso sim, vai ser uma dor imensa!).

Sei bem que as leituras são parte integrante de um Doutoramento, numa proporção igual à da escrita e à do trabalho empírico. Mas a leitura, vendida aos restantes mortais como lazer, parece-me sempre batota. Quando estou a ler sinto-me sempre como se tivesse dormido três horas de sesta ou passado a ferro em vez de trabalhar no pê agá dê. 

O mundo do trabalho não académico deu-me muitas coisas boas: a resistência às adversidades, a capacidade de me adaptar às circunstâncias, a procura de uma solução rápida para os problemas. Mas também me deu este bug no cérebro, de sentir que ler é lazer quando, na verdade, dá um trabalhão.